domingo, 20 de novembro de 2011

O hoje e o amanhã


Nunca voltes aos lugares onde foste feliz. Concordo.
Estou por aqui a queimar os últimos cartuchos e a pensar que nada disto se vai repetir. Mesmo que aqui volte algum dia, o quarto não será o mesmo, as pessoas não serão as mesmas, nem as rotinas.  
A verdade é que também não tenho vontade de voltar. Não gosto de regressos ao passado e os anos trouxeram-me a noção clara de que a vida é muito curta para repetições. Não gosto de sentir saudades nem nostalgia.
É preciso viver o presente, mesmo as coisas mais banais, porque a vida é agora.
Então não me digam está quase. Cada coisa a seu tempo. Agora estou nesta e depois logo viverei outra. Já caí nesse erro antes. Deixem-me olhar bem para todas as coisas que pendurei na parede, para as tomadas bem branquinhas, limpas por mim, para os livros em cima da secretária, ouvir o som do ar condicionado e sentir a presença da D. Amélia na cozinha.
Daqui por uns meses, tudo isto será passado e sei que não terei vontade de aqui voltar, porque isto eu já vivi. Depois, quero algo novo, o amanhã.

O hoje e o amanhã

A semente nasce
Despe a casca
Cede a nova vida
A antiga é deixada

O hoje passa
Encontra o amanhã
O amanhã veste as asas
Deixa o hoje

O brilho das estrelas
Alumia a escuridão
A noite se dispersa
Brota o novo dia

A tristeza desvia-se
Sucede-se a felicidade
A tristeza será narrada
No espelho da alegria

Nuno Esménio Soares
(timorense, professor de Português e meu colega)

Invictus (última estrofe)

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

William Ernest Henley
(inglês, 1849–1903)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Exercício de oralidade

- Então e aqui quem é que já comeu carne de cão?
Todos se riram.
- Eu como, professora, eu também. Eu não. Eu também não. É saborosa, é como cabrito.
- Mas o cão é um animal inteligente. Quando chegamos a casa, ele abana o rabinho. Vocês nunca chegam a desenvolver uma relação de amizade com os cães?
- Com alguns sim.
- É que, por exemplo, os coelhos e as galinhas estão lá nas coelheiras e nos galinheiros. Agora o cão anda ali pela casa perto de nós.
- Nós temos cães para guardar a casa.
- Então e num dia está ele ali a guardar a casa e no dia seguinte está dentro da panela?
- Normalmente, os cães que nós comemos são comprados...
- Então não chegam a conhecê-los?
- Depende. Se algum se porta mal, se morde, se mata os outros animais,...
- Não merece viver?
- Pois. Mas antes da ocupação, nós não comíamos, mas os indonésios trouxeram esse hábito. Dantes eram só utilizados em rituais.
- E agora?
- Agora, ainda são utilizados em rituais, em alguns distritos.
- E como é?
- Os anciãos fazem umas rezas e depois matam um cão.
- Como?
- Com uma faca no pescoço. Depois o sangue escorre para uma cova.
- E quando é que fazem isso.
 - No S'au Batar, colheita do milho, por exemplo.
- Mas não comem só quando há rituais?
- Sim (a pergunta é feita pela negativa, portanto a resposta vem na afirmativa). De seis em seis meses. De vez em quando.
- E compram sempre o cão vivo?
- Sim.
- E quem o mata? Alguém aqui já matou um cão?
Dois respondem que sim. Um deles é dos mais tímidos da aula.
- Como?
- Metem-se dentro duma saca e depois com um pau ou com um ferro.
- É sempre assim?
- Sim.
- Como é que foi no seu caso?
- No meu distrito, a minha família cria cães.
- E você nunca lhes faz festas?
- Sim. Faço, quando vou pôr comida.
- E depois mata-os?
- Sim, porque o homem é o animal mais importante. O homem pode matar outros animais.
- E as mulheres nunca matam cães?
- Não. Só os homens fazem isso.
- É uma coisa de superioridade do homem sobre o animal?
- Sim, é isso. O homem é superior.
- Em Portugal é o mesmo com as touradas.
 Olham com ar de quem não sabe o que é isso.
- Nas touradas mete-se um boi no meio de um círculo e depois há um homem que lhe vai espetando facas nas costas.
- E você?
- Foi só quando eu tinha 16 anos e o meu cão estava doente. O meu pai disse-me para matá-lo.
- E como foi? Também com a saca?
- Não. Foi com uma corda no pescoço.
- E agora quem costuma fazer isso lá em casa? É você?
- Não, era o meu avô, mas ele morreu.
- Então quem é agora?
- Vão lá os meus primos.
- E você?
- Eu não gosto. Fico triste.
- Alguém aqui já teve algum cão de estimação?
- Eu já. Quando eu chegava da escola, ele abanava sempre o rabo. Quando ele morreu, chorei durante uma semana.
- Mas você come na mesma carne de cão.
- Sim, mas são aqueles que se vendem.
 - E o seu cão morreu como?
- Roubaram-no.
- Eles pescam-nos.
- Pescam cães?
- Sim. Põem um bocado de carne numa linha e vão puxando e eles vão atrás.
- A mim também já me roubaram um cão.
- Eu tinha dois. Uma vez, fui de férias e quando voltei já não estavam lá. Os meus primos disseram que os tinham matado, porque morderam uma menina.
- Boa desculpa. Deviam era estar bem gordinhos.
- Não. Eu vi a marca no braço dela.
- Eu só comi uma vez. Foi quando a minha mulher estava no hospital para ter o filho. Estava cheio de fome e vim cá fora a um restaurante. Pedi duas cervejas e petiscos. Entretanto, comecei a ouvir uns cães a ladrar e pensei que estivessem presos. Quando fui ver, a parte de trás do restaurante estava cheia de cães. Depois é que percebi que estava a comer carne de cão. Mas era saboroso.
- Mas não se pode comer muita, porque faz pressão alta.
- Os meus primos não podem comer.
- Porquê?
- Porque se comem ficam aleijados.
- A família da minha mulher também não.
- Porquê?
- Porque ficam com problemas de pele.
- O meu avô também me disse que na nossa família ninguém pode comer, senão fica com escamas na pele. Eu nunca comi.
- Eu não como, mas não concordo que as pessoas dêem mais importância aos animais do que aos seres humanos.
- E há aqui quem dê?
- Um colega meu brasileiro, quando cá chegou, começou a perguntar como era possível comermos cães, animais que são nossos amigos e, agora, quando o ex-presidente do Brasil, o Lula, ficou com cancro na garganta, ficou contente. Não entendo isso.

domingo, 23 de outubro de 2011

Tempé, mãos e manas

Hoje acordo com a voz do motorista debaixo da minha janela. Estranho, porque a esta hora já aqui não devia estar. Ao pequeno-almoço venho a saber que os dois pneus da frente do carro amanheceram furados. Não do meu, porque não adquiri aqui nenhum, mas o de serviço. Este é o carro que transporta os professores para a universidade e, claro está, houve alguns que hoje não deram aulas. Felizmente, não precisaria dele.

Começo logo a pensar se os furos teriam alguma relação com o facto de, no sábado, ter estacionado o carro em frente às bancas de frutas junto ao mar, enquanto fui rapidamente ao supermercado. Este pensamento ocorreu-me porque, na semana passada, alguns dos “mãos” e das “manas”, que por ali vendem, ficaram um tanto ou quanto chateados com a minha pessoa, porque resolvi comprar noutra banca o que estava para comprar na anterior, “Malai, malai” e o resto não entendi… Todos vendem o mesmo e, como vendem caro, cada vez que lá passo as bancas estão cheias de produtos, mas sem ninguém para comprá-los. Quem ali vai sujeita-se, muitas vezes a comprar mais caro ou a regaterar. Muito e muito haveria a dizer sobre isto, mas vou tentar resumir nos seguintes pontos:

1-Timor não tem recursos humanos qualificados;
2-Como tal, tem de contratar estrangeiros;
3-Para atrair estes estrangeiros, paga a peso de ouro a muitos deles;
4-Os timorenses continuam a ganhar muito mal;
5-Os que vão para fora estudar, com bolsas, muitas vezes não voltam, porque vêm ganhar pior do que nos países onde estudaram, mesmo trabalhando aí noutras áreas;
6-Mas há excepções: políticos e alguém que tenha a sorte de ser reconhecido, por exemplo, por ter feito um doutoramento nos Estados Unidos ou na Austrália ou na Nova Zelândia, consoante as possibilidades;
7-Sabendo que há quem compre, os vendedores sobem os preços;
8-Mas como sobem os preços, os produtores, também os sobem;
9-Para conseguir continuar a ter lucro, os vendedores compram em quantidade para obter descontos;
10-Como só os estrangeiros e alguns timorenses é que os adquirem, não escoam o que compram, mas também não baixam os preços… “compra caro, compra caro”… e perdem dinheiro.

Resultado: esta clivagem gera rancor e rancor gera rancor e ninguém gosta de ser mal tratado, estrangeiros e timorenses.

O episódio do carro fica no ar, enquanto vou à faculdade. No regresso, preciso de comprar um cartão para carregar o telemóvel. Enquanto compro a um rapaz, logo aparece outro para me tentar vender... exactamente o mesmo! Faz sentido?

Apanho um táxi e preparo logo uma nota de 1 dólar para pagar no final do curto percurso. Dou o dinheiro e digo Bom dia, “mão”. Não obtenho resposta. Se sou “malai” devia pagar-lhe mais, supostamente. Mas 1 dólar é o valor tacitamente acordado para uma viagem como a que fiz.

Resolvo, desta vez, comprar alguns legumes e fruta nas bancas perto de casa. Curiosamente, verifico que o preço é inferior ao praticado nas outras perto do mar, o que é estranho, porque estas têm muito menos quantidade. Fico contente por não ter de regatear nada e aqui consigo encontrar “tempé”. Pago e, enquanto espero pelo troco, pergunto como é feito. Um rapaz, com nítida vontade de praticar o seu Português, começa a tentar explicar-me.

Tenho de dizer que, pelo que tenho observado, os timorenses mais novos são, de maneira geral, mais abertos e simpáticos que os mais velhos. Conversa puxa conversa e numa tentativa de lhe perguntar onde aprendia Português e em que ano andava, responde-me com a idade: 18 anos. A “mana” não regressa com o troco e a conversa continua. Fico a saber que anda no oitavo ano, em que escola, onde mora e que a senhora que continua sem voltar com o troco é a sua avó. Pergunto-lhe pelo troco e, passado um bocado, regressa a dita. É então que abre uma gaveta e lá me dá os 2 dólares que eu esperava. Pergunta: por que raio não mos deu logo? Começa a rir-se, com os dentes todos vermelhos e completamente delapidados pelas bagas vermelhas, alucinogénicas, que deve mascar desde quando tinha a idade do neto. Com o mesmo sorriso começa a empurrar-me para fora da banca, Então “mana”?

Estaria drogada ou não gostou de ver o neto falar Português comigo? É que o Português, apesar de ser língua oficial, quase não é falado nem entendido pela maioria da população. Como tal, quem sabe falar ou tenta, porque, mal ou bem, aprende na escola, é visto como alguém pretensioso…

A verdade é que o rapaz, no seu parco Português, disse-me para não falar com ele no meu parco Tétum. Puxou pelas suas capacidades e mergulhámos numa conversa em que se esforçou para me dizer como é feito o tempé. Porém, já verifiquei que não sabia. Aqui fica o link para quem tenha interesse em saber: http://basilico.uol.com.br/conteudo.php?id=1398. Tal como ele tentou, eu também tentei e conseguimos não só falar durante 5 minutos, como contornar o fosso que nos separava anteriormente (e desta vez não me refiro ao que ali passa com as águas sanitárias).

Olho para a “mana” com ar de incredulidade e, ao mesmo tempo, de descontentamento. De saco na mão, dou meia volta, e deixo as risadas atingirem-me as costas. Já não pude ver se os dentes brancos do rapaz estariam entre elas…

sábado, 15 de outubro de 2011

Isto aqui é Timor Leste

Já há algum tempo não escrevo. O que se passa é que, até aqui, tenho escrito sobre factos e, após cerca de três meses em Timor, mais do que sobre factos observados, começo a ter necessidade de escrever sobre pessoas.

Escrever sobre pessoas não é simples, porque, ao contrário do que acontece com os factos, com as pessoas há, quer se queira quer não, uma ligação afectiva. Além disso, ao escrever sobre determinada pessoa, não quero que se generalize o que escrevo sobre ela a todas as pessoas com as mesmas características.

Assim, resolvi escrever sobre factos e, dentro deles, colocar as pessoas ou, quem sabe, tenha sido o contrário.

Nesta altura do campeonato, já consegui criar uma rotina, o que não acontecia propriamente em Portugal, e o meu objectivo de conhecer esta cultura através do contacto directo com nativos começa a ser possível.

Sensações:
- A sensação de claustrofobia de viver numa ilha mantém-se e não sair de Díli faz com que se agrave.
- Sinto que vivo em 3 mundos paralelos: o de Portugal, porto seguro ao qual regressarei, o de Timor dos timorenses e o de Timor dos estrangeiros.

Quotidiano:
- Levanto-me cerca das nove da manhã, exceptuando às segundas-feiras, devido à reunião de departamento, que começa justamente a essa hora, e deito-me relativamente cedo, por volta da meia-noite e meia.
- Como seis vezes ao dia, à hora normal das refeições.
- Vou todos os dias ao ginásio, por volta das seis e meia da tarde, exceptuando aos fins-de-semana, em que vou mais cedo. Frequento aulas e fiz 3 planos de treino para os dias em que não há nenhuma.
- Dou aulas duas vezes por semana numa licenciatura, estando responsável por duas disciplinas.
- Coordeno um grupo de formadores timorenses, que dão aulas de Português em diversos locais.
- Organizei um grupo de teatro, do qual fazem parte alunos e dois dos formadores que referi anteriormente. Temos ensaio de duas horas todas as sextas-feiras.
- Participo numa tertúlia organizada por um desses formadores, que se realiza todos os domingos. Os temas estão relacionados com a actualidade timorense. Por exemplo, a instalação de um pipeline para petróleo em Timor-Leste vs Austrália.

Apontamentos:
- Na universidade há uma prática muito patriótica, que é a cerimónia do içar da bandeira, uma segunda-feira por mês, às oito da manhã. Como não me obrigam a estar presente, penso que a cerimónia a que assisti no distrito de Aileu é suficiente.
- Deixei o taekwondo, porque precisava de treinos mais intensos e menos repetitivos. À partida o tkd seria bom para contactar com timorenses, mas acabei numa aula só para malai (estrangeiros), frequentada também por uma argentina e por uma espanhola, que nunca antes tinham praticado. A fraca preparação física era inversamente proporcional ao respeito pelos treinadores, que embora muito jovens, faziam o melhor que podiam. Voltei ao ginásio. a. Estes ninõs não sabem dar o treino. b. Podemos pedir-lhes para mudarem um pouco. a. Não dá, não dá. b. Mas porquê. No início disse para fazerem treinos sem muitas paragens pelo meio e eles fizeram. a. A gente já pediu para mudarem e não dá. b. Mas podemos falar com eles. a. Eu sei que és professora e talvez tenhas mais paciência, mas isto aqui é Timor Leste.
- O ginásio é frequentado na sua grande maioria por estrangeiros e a mensalidade é de cerca de metade do ordenado de um professor.
- Mudei a minha alimentação no que respeita a legumes e frutas. A variedade do que se pode encontrar nas bancas é grande e gosto de experimentar os produtos locais. Com relação a frutas: mangas, papaias, bananas e abacates. Quanto a tubérculos e legumes: inhame, cenouras, tomate, cebola, alho e batata-doce. Tenho de comprar também mandioca. Há disto e muito mais.
- As distâncias entre casa, universidade e ginásio são curtas, o que me permite poupar muito tempo.
- Neste momento, conduzo um dos carros do Instituto, apenas aos fins-de-semana e ao final da tarde. Isto veio dar-me mais liberdade de movimentos. Pensei numa moto, mas como não percebo nada de motos, desisti quando percebi que nem mudanças conseguia pôr.
- Tenho antena parabólica, gerador e internet a uma velocidade razoável, o que me permite estar mais ou menos actualizada quanto ao que se passa no mundo.
- Encontrei uma solução para as garrafas de água vazias: oferecê-las às "manas" (senhoras) que vendem nas bancas de frutas. Utilizam-nas para colocar outros produtos, como uma bebida alcoólica timorense, picante e gasolina.

O que há em comum entre a moto, as tertúlias e o grupo de teatro é um dos formadores. Trata-se de um jovem, na segunda metade dos vintes, a quem, para terminar a licenciatura, falta apenas terminar a monografia.
Não tem mais de um metro e sessenta de altura e é o que chamo de seco, como grande parte dos homens timorenses. Embora magros, têm grande definição muscular. Vive num bairro já nos arrabaldes de Díli, que dá pelo nome de Pité, a grande distância da universidade, com a mãe, seis irmãos e uma série de outras pessoas, que no total, segundo o próprio, soma 20. Inicialmente o percurso era feito de bicicleta, mas entretanto, o jovem adquiriu uma moto, o meio de locomoção mais comum entre os timorenses.

A casa tem uma construção típica: chão de terra batida limpíssimo, paredes de bambu, divisórias que servem para dormir, onde são colocadas esteiras, sem janelas e com telhado de zinco. Nota: as janelas não são propriamente necessárias, a não ser que se possua ar condicionado. O calor é tanto, que quanto mais arejada for a casa, melhor.

Esta casa foi construída por ele próprio com a ajuda dos familiares num terreno adquirido com uma bolsa de estudo atribuída por um Instituto português. Atenção: o Instituto não é tão generoso que atribua montantes que permitam estudar, comer, adquirir terrenos e lugares no mercado para dar emprego à mãe. O que é certo é que o terreno foi comprado, o lugar no mercado também e a licenciatura está praticamente tirada.

O jovem em questão dá aulas de manhã numa escola primária, é tradutor na Timor Telecom e é formador de Língua Portuguesa. A par disto, como já disse, frequenta o grupo de teatro e organiza as tertúlias.

Em conversa, disse-lhe que estava à procura de uma moto. Passada não mais que uma semana, informou-me que talvez tivesse encontrado uma. Onde? No bairro Pité. Então marcamos um dia e vamos lá de táxi. Não há problema professora, eu levo-a na minha moto.

O negócio da moto não se desenvolveu e o jovem propôs-me vender a dele. a. Não precisa da moto? b. Preciso, mas para mim é mais fácil encontrar outra. Também ando a ver se compro uma para o meu irmão. a. Então e o que é que o seu irmão fez para merecê-la? Ele ainda anda a estudar, não é? b. Sim, mas assim ele pode fazer negócio com ela. a. Negócio? b. Por exemplo, vender peixe. a. Bem, você tem tido muito trabalho com isto da moto, eu gostaria muito de o compensar. b. Professora, nós não pensamos assim. Eu faço isto para ajudar, não é suposto dar nada em troca… O jovem mostrou todos os dentes brancos e alinhados de forma franca e sincera.

sábado, 24 de setembro de 2011

Malai

Ultimamente, ou seja, nos dois últimos fins-de-semana tenho ido correr aqui por Díli. Sempre ao fim da tarde, porque durante o dia faz demasiado calor.
A vantagem de correr ou andar pela cidade a pé é ter um contacto mais próximo com a realidade. Uma coisa que me agrada por aqui é a vida, a actividade. Durante o dia, há sempre gente na rua. Vêem-se homens com paus aos ombros com cachos de bananas pendurados em cada uma das extremidades. Do mesmo modo, também podem transportar alfaces ou outras verduras, pequenos sacos com tomates ou limões, peixe preso pela boca, etc. Vêem-se, por exemplo, crianças a vender ovos em grandes caixas e, ainda, os muitos vendedores de cartões para carregar o telemóvel. Nos dias de semana, as crianças fardadas vêm e vão para as escolas e outras ainda correm atrás de rodas controladas por um pauzinho, como se via em Portugal no tempo dos nossos pais ou avós. Todos circulam a pé, de carro e, sobretudo, de moto e de bicicleta. Sempre devagar.
Ao longo do meu percurso tenho de cumprimentar diversas pessoas que não conheço, contornar alguns cães e ouvir vezes sem conta "malai", "malai". "Malai" é a palavra que os timorenses utilizam para designar "estrangeiro". Ao ouvir isto, soa quase como um aviso: "atenção que vem lá um estranho". Parece que vem de "malaio", e esta espécie de grito era, de facto, um alerta. Passou de geração em geração e ainda continua a ser ensinado às crianças. A questão é que Díli está cheia de estrangeiros. Para quê isto? Estranho.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A minha rua

Saio de casa ao final da tarde, quando o tempo já está mais fresco, rumo ao final da rua, onde se encontram umas bancas de frutas e legumes, enquadradas por roupas em segunda mão, também para venda. Tenho de ir ver de coisas para o jantar. Atravesso o portão vermelho e digo boa tarde a toda a maralha que costuma fazer companhia ao porteiro/segurança. Este é só o primeiro "boa tarde" de todos os que vou ter de dizer ao longo do caminho, que se resume a uma rua, a minha. Cheiro de fossa no ar e lá vou eu. Às vezes, para criar empatia, digo "boa tardi", mesmo com o sotaque local. Nem sempre o objectivo é alcançado. Oiço os risos atrás de mim e também me dá vontade de rir. A meio, reparo numa carrinha branca da UN estacionada ao meu lado direito. Olho descaradamente e observo o dono, provavelmente um australiano dos seus 40 e tal anos, loiro e anafado. Acompanho-o o respectivo cão, bem cuidado e sem trela e, este sim, preso a uma coleira, o seu macaquinho de estimação...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Regresso ao Taekwondo

Quem diria que o meu regresso ao Taekwondo seria em Timor Leste...
Há coisas que me agradam muito aqui. Fui lá anteontem, o mestre (timorense) disse-me que ligava hoje, ligou mesmo, e ainda marcou para o próprio dia. Arranjou dois miúdos também timorenses e muito simpáticos para me dar o treino, porque não tem tempo, devido aos Asia Games, e ainda se justificou! Acabou por ser personalizado, correu super bem e, no final, um deles ainda se ofereceu para me vir pôr a casa! Nice or what?

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Agenda timorense

Em primeiro lugar, obrigada a todos os que lêem o blogue (www.haubelebatimor.blogspot.com) pelos elogios e pela força. É muito bom saber que há quem goste do que escrevo e da forma como escrevo. É muito bom saber que o que deixei em Portugal continua aí à minha espera.

Notas na agenda:

- Sexta-feira:
Fui para a night aqui no burgo. Discoteca local arejada (não tinha janelas), dando pelo nome de Casa Minha.
Só entra quem está na guest list, mas eu não estava e entrei na mesma (mas os colegas estavam. Deve ter sido por isso...)
Não deu para fazer uma análise rigorosa à fauna local, mas acaba por se ver de tudo (portugas, austras e timorenses).
Música não gravei na memória, mas uma tinha coreografia própria, impossível de fazer à primeira, especialmente com neurónios a funcionar com combustível etílico (não os meus, claro está).
Shots com nomes estúpidos, de cariz sexual, como em qualquer lado.
Moçambicano-timorenses porreiros e com muita dificuldade em divertirem-se.
A noite termina invariavelmente em estalo entre timorenses e esta não foi excepção. Deu para ver qualquer coisa, mas achei melhor debandar.

Sábado e domingo: leve ressaca (eu não bebo, eu não bebo) misturada com constipação, mas com pica para limpar quarto, casa-de-banho, tratar da roupa e fazer sopa. Nada mais a relatar, porque a minha memória é selectiva e bastante minha amiga.

Segunda-feira: ida à secretaria de estado juventude e desporto. Há taekwondo em Timor. Conheci o meu futuro mestre (espero eu). Mesmo em tétum, lá consegui entender que era para estar no dia seguinte no pavilhão atrás da universidade, onde se realizam os treinos. Anda tudo a treinar para os Asian Games. Vai Timor! Vai Timor!
Destaque: detesto o preconceito de certa maltosa (portuga e timorense), que acha que artes marciais em Timor são só para gangues e têm sempre catanas à mistura. Claro que nunca meteram os pés em Arcena (Alverca)...

Terça-feira: preparação das formações extra-curriculares. Formadores jovens e muito simpáticos. Trabalhámos quatro em conjunto e foi divertido e produtivo. Interrupção a meio para ver o treino de tkd. Encontro com mestre de Kempo: touro de 1,60x1,30. Para me explicar o que era aquilo, agarra-me numa mão e, por artes mágicas, fico de joelhos no chão em menos de um segundo. Por sinais, manda-me tirar as sandálias e entrar no tatami (ou tipo) e ando ali um bocadinho a "brincar" com ele, com gargalhadas (dos meus formadores) em pano de fundo. Fun. Lá encontrei o mestre de tkd. Vai entrar em contacto na 5ª (espero bem que sim). Há aulas só para malai (estrangeirada, que só quer brincadeira), mas falta espaço, porque está tudo ocupado com os treinos para os Asian Games.

Quarta-feira: óptimas notícias de Portugal. Há alguém que se vai pôr ao fresco e mais não posso dizer. Almoço de despedida de outro colega. Só dei meia aula... O que eu adoro espicaçar este pessoal. Acção pessoal! Não deixem que sejam os outros a decidir por vocês. Organizem-se! FORÇA TIMOR!!!!

Projectos: grupo de teatro, taekwondo, refazer e terminar artigo a tempo e horas, trabalhar para a tese.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Felicidade

No outro dia, um amigo meu disse-me: "já te conheço há tempo suficiente para saber que não estás feliz aí. Não estás pois não?"

Isto levou-me a pensar na ideia que algumas pessoas têm de que a vida tem de ser uma maré constante de felicidade.

Quando decidi vir para Timor, posso dizer que a minha vida estava "flat". Dinheiro no final do mês, casa, carro, amigos, família, trabalho interessante e projectos de vida. Estava a viver na minha zona de conforto, da qual não tinha a menor necessidade de sair. Na concepção de muita gente isto é ser feliz e como o seu objectivo de vida é ser feliz não haveria que mudar.

O busílis da questão ou onde a porca torce o rabo é que eu não tenho como objectivo de vida ser feliz, não penso que a felicidade tenha de ser constante e não acho que a felicidade tenha de estar associada a estabilidade e conforto.

Eu quero ter momentos felizes, mas, para mim, viver é uma soma de experiências e, quanto mais variadas estas forem, mais rica terá sido a minha vida no final. Quero conhecer outras vivências diferentes da minha, outros lugares, outras gentes. No final, estará sempre, inexoravelmente, a morte. Portanto, posso viver no meu mundo, sem grandes alegrias, mas também sem grandes tristezas, rodeada do que conheço e que já não me assusta, sendo feliz dessa forma, ou posso sair das fronteiras da minha zona de conforto.

Haverá momentos infelizes, em que estarei triste? Sim. Haverá momentos inacreditáveis, de pura beleza e felicidade? Também.

Quando vim para Timor, sabia que o primeiro mês seria difícil. Embora, pudesse ter a sorte de me adaptar muito rapidamente, encontrar pessoas fantásticas, o mais expectável era que não fosse acontecer assim.

Esta não é uma realidade fácil, no sentido, de estar rodeada de bem-estar, e isso torna tudo mais complicado num primeiro momento. Estamos muito mais dependentes das pessoas que nos rodeiam. Se tivesse chegado a Nova Iorque, por menos gente que conhecesse, com certeza, teria muito com que me entreter. Aqui não.

Utilizando o meu pragmatismo, no momento mais baixo, dei-me duas semanas. Ou passava a ser bom ou ia embora. Não considero que desistir de algo tenha necessariamente de ser um acto de cobardia. Desde que se tenha lutado antes para que tudo corresse bem e desde que se tenha dado o benefício da dúvida. Não gosto de desperdiçar tempo.
E eis que depois da tempestade veio a bonança. Mas sei que depois da bonança talvez venha outra tempestade. Mas o que tiver vivido na tempestade tornar-me-á mais forte. O que tiver vivido na bonança terá um sabor infinitamente mais agradável do que navegar a vida toda num mar flat.

O dia de anos correu bem, com um jantar no Hotel Timor. Cheiro a tabaco quando se entra, como já não acontece na maioria destes sítios em Portugal, ambiente tropical, com madeira, ventoínhas e plantas verdes. Companhia bastante agradável, com direito a muitos mimos, que foram directamente para o armário do coração com a etiqueta "Timor".

Primeira semana de aulas estimulante, com duas disciplinas e alunos que fazem adivinhar muitos desafios, muitas alegrias e... desilusões. É a vida.

Fim-de-semana preenchido com duas viagens. Uma a Baucau e outra a Ataúro. Paisagens lindas, gente afável, companhia muito divertida numa viagem e outra mais contemplativa na outra. Em Ataúro estive num resort ecológico. Tudo reaproveitado. Fica o exemplo para os timorenses, que andam a aprender coisas úteis com os seus vizinhos. E, já agora, fica também o exemplo para os portugueses.

- Estás feliz?
- Agora estou... só porque perguntaste e por assim saber que tenho alguém como tu para se preocupar comigo.

sábado, 6 de agosto de 2011

Reflexões aniversariais:

Hoje é Domingo, dia 7 de Agosto.

- Cheguei à meia-idade. Já não sou oficialmente jovem. No entanto, quando fiz
10 anos senti-me 20 vezes pior, porque o meu primo Vasco me disse que a minha idade iria passar a ter dois dígitos, que nunca mais voltaria a ter um único e que só passaria a três, quando fizesse 100 anos. Quando fiz 20 anos, fiquei triste, porque tinha deixado oficialmente de ser teenager. A inconsciência continua e quando fizer 50 pensarei em quão tonta sou hoje.

- Quando fiz 15 anos, a minha avó paterna disse-me "daqui até aos 30 é para ganhares juízo". Nesse ano, estava em Vendas Novas e fui lanchar com a minha amiga Teresa Lagarto Picado. Pensava que para os 30 faltava uma eternidade. Já se passaram 20 anos. A minha amiga Teresa foi das primeiras pessoas com quem falei hoje (viva o FB) às 2h30 de Portugal. A minha avó anteontem ainda limpou os "amarelos" nas "limpezas grandes".

- Há 15 anos soprei as velas dentro de um barco no canal da Mancha, recebi da minha amiga Vanda um peluche que ainda reside em cima da minha estante do quarto e a mãe dela conseguiu enganar-me quanto à minha própria data de anos. Fez-me pensar que era um dia a menos. Nessa viagem conheci o meu grande amigo Luís Lima que estava a estudar turismo e que, este ano, me aturou durante 3 meses a organizar uma viagem à Turquia, que nunca chegou a acontecer, e a viagem para Timor.

- Há 10 anos, estava em Cracóvia, com os meus amigos Vanda, Bife e Sónia. Ofereceram-me uma caixa azul para pôr brincos e colares. Ainda é a que utilizo hoje em Portugal. O meu amigo Bife sonhava em casar-se. Já tinha a casa, só lhe faltava a mulher. Hoje tem 2 filhos e um pónei... e mulher.

- Há um ano estava em Perugia e tinha acabado de conhecer os meus amigos Constantinos e Chrysanthos. Estava no início de um dos meses mais inesquecíveis da minha vida.

- Hoje estou em Díli e o meu dia de anos terá 32 horas. Para o ano, faço o balanço.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Quotidiano

Saída de casa por volta das 9h da matina. Sr. Tobias, o motorista, já à espera, para cumprir com a sua missão de me transportar e a um colega até à universidade. Entramos na viatura de volante à direita e já Januário, o porteiro, abre os portões, como faz sentido, dada a sua profissão. Carro em andamento, Januário retira-se para o lado e atiramos-lhe uns sorrisos e acenos.
Sr. Tobias quase a bater deliberadamente numa moto que passa no momento e ar retido nos pulmões dos transportados "ele viu que eu estava a sair do portão e, mesmo assim, não parou". Afinal, nem tudo faz sentido nesta terra.
A meio do dia, almoço num restaurante self-service perto da universidade, seguido de passeio no parque junto à marginal. As sombras e o ar do mar tornam o ambiente mais fresco, embora esta não seja a época mais quente do ano. Olho para cima e... um macaco diverte-se nos ramos de uma árvore... e mais outro... e outro ainda.
Continuo a caminhada lentamente e, muito lá à frente, ao passar em frente às bancas de venda de frutas e legumes, inverto o sentido da marcha. De repente oiço: "Senhora Inês!" e penso "estou a alucinar". E de novo "Senhora Inês!". Páro e olho. Está uma criança sentada numa mesa, a olhar sorridente para mim. Retribuo e pergunto-lhe com ar altamente surpreendido: "como é que sabes o meu nome?". E pergunto-me como é possível aquela gente já me conhecer. De trás de uma bancada surge, então, uma mulher, também cheia de sorrisos e reconheço-a. Já lhe tinha comprado fruta e disse-lhe o meu nome. Isto foi na semana passada ou, se calhar, na anterior. Nota do meu colega, professor de 60 e tal anos: "não se esqueça que o tétum era uma língua só de oralidade, portanto eles têm mais facilidade em decorar o que ouvem do que nós, que decoramos através da escrita". Nota minha: logo regresso para lhe comprar fruta. CRM do mais bem feito.
Regresso ao centro, já a precisar de descansar um pouco. Após repousar sentada à secretária, dirijo-me ao consulado para fazer o meu registo e, de seguida, rumo ao banco, logo ao lado. Um dos empregados tinha-me dito para passar lá às 3h da tarde, pois teria o meu cartão multibanco pronto a levantar. Aqui estas coisas não vão por correio. São um quarto para as 3h e resolvo esperar. Aos 5min para a hora, decido que é melhor regressar no dia seguinte, até porque duvido que se cumpra a palavra. Saio e, após dar alguns passos, oiço de novo nas minhas costas: "Senhora, senhora" e penso que não deve ser para mim. Continua o chamamento e viro-me. É o empregado que se dirige, precisamente às 3h da tarde para o balcão do banco, tal como tinha dito, para me entregar o cartão.
Volto a sair do banco e tento atravessar a estrada na passadeira. Lanço-me quando vejo um carro da UN, ingenuamente na esperança de, sendo um estrangeiro, que pare na passadeira. Passa a abrir e confirma o que penso de muita desta malta que vem trabalhar para estes países: são uns selvagens...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O mundo não tem fim

Não gosto de falar de um povo como se de uma raça canina se tratasse: "os golden retriever são animais dóceis, bons para lidar com crianças. Já os franceses não gostam de tomar banho". No entanto, é interessante ver como os timorenses, ou pelo menos alguns, lidam com esta situação peculiar, que é a de um vaivém de estrangeiros mais ou menos constante no seu território. Dão boas-vindas a uns e despedem-se de outros. A minha festa de recepção foi feita em simultâneo com a festa de despedida de dois colegas que permaneceram por cá vários anos. Muito me honrou ter recebido, de uma criança, uma salenda com uma inscrição especial direccionada à minha pessoa. Uma salenda é uma espécie de cachecol e o petiz enrolou-ma ao pescoço, qual campeã a receber uma medalha.
Foi então proferido um discurso de despedida, sem grandes pretensões, para não acabar tudo em choradeira, terminando da seguinte forma: "mas o mundo é pequeno, haveremos de nos encontrar, senão neste, no próximo". Hoje, na partida de uma dessas colegas, mais uma vez veio à baila o outro mundo. "Haveremos de nos voltar a ver, doutora, nem que seja no outro mundo". Reconfortante, não?

Bio-ritmo timorense

Saio de uma conferência na faculdade e, lá fora, quando entro no carro que me vai levar a casa, já é noite cerrada. Chego, tomo banho, preparo o arroz para o jantar, janto calmamente, vejo um pouco de televisão e vou para o meu quarto ver o que há de novo por terras facebookianas. Começo já a cair de sono e olho para o relógio: são nove da noite :~

sexta-feira, 29 de julho de 2011

David e Golias... ou não...

Hoje: almoço de despedida de uma colega em casa da adida cultural da embaixada de Portugal. Após seis anos por cá, vai voltar à pátria mãe. Convidados: vários professores, entre eles, uma prof. timorense.

No caminho:

Prof. que vai embora (PQVE): ah, sabes que o cunhado da prof. timorense (PF) tem uma piton em casa?
Eu: what? São daquelas venenosas?
Outro prof: não, são daquelas que estrangulam...
Eu: ah!
PQVE: um dia escapou...
Eu: sério? e depois encontraram-na?
PT: sim, depois encontrámos
PQVE: e aqui a PT nem ficou com medo... eu teria algum receio.
PT: eu não.
Eu: está bem alimentada?
PT: sim, come de vez em quando uma galinha. Mandamos-lhe uma galinha de vez em quando.
PQVE (incrédula): Viva?
PT: sim, claro. É muito giro ver a luta entre as duas.
Outro prof.: deve ir com penas e tudo.
Eu: deixa lá, pelo menos morre com dignidade.
Outro prof.: em Portugal é com choques eléctricos.
PT: têm de vir ver um dia.
Eu: gosto mais de ver na televisão.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Shopping

Ontem, uma colega minha aqui da casa convidou-me para ir ao "shopping"... Estão a ver aquelas roupinhas muito giras que um dia vocês usaram e que, num acto de extrema solidariedade, colocaram no contentor da roupa para fazer felizes os povos necessitados do outro mundo que não o vosso? Pois é... estão já ali no fim da rua. Um luxo.

Out

Parece que quando assim distantes da nossa realidade, nos esquecemos de certas coisas que costumavam ser rotina. Por exemplo, nunca mais me tinha lembrado de ver os meus e-mails do hotmail...

21 de Julho - Vitórias

Hoje consegui duas vitórias:
1- Vieram buscar a betoneira que se encontrava no meio do jardim. Telefonei à dona da casa e não é que, dois dias depois, aqui estavam os homens para recolher aquela coisa. Deu trabalho e temi pela vida deles, pois conseguiram, à força braçal, pegar naquilo e colocar numa camioneta. Mas, no final, receberam as minhas palmas.
2- Eu, Marito (segurança) e outra ocupante da casa retirámos um bidão tipo gasolineira e um contentor do lixo também do meio do jardim.
Aqui a separação de lixo é arcaica, mas existe. Eles recolhem as garrafas para as reaproveitar. Assim, as que estavam no meio do chão passaram para dentro de um balde do lixo.
"Hau ho Marito gosta jardim capaz!"
Oh lé!!

Aprendendo tétum

Afoin fase azulejo amos baldi = depois de lavar o chão, limpar o balde.
Ha'u aprende tétum ho D. Amélia aprende português = Eu aprendo tétum e a D. Amélia aprende português.
Um dia eu chego lá!

18 de Julho

Sabem aquilo que se diz que acontece nos países tropicais, de se tomar banho e passado um bocado já se estar todo pegajoso? É verdade.
O bom é que o meu quarto tem ar condicionado.
Visita à universidade pela manhã. Bom aspecto, paredes e tectos inteiros, pintados, corredores grandes, limpa e com muitos alunos, mesmo em tempo de férias: "estudante universidade sira nian". Será que está bem? Sira para o plural, nian para o possessivo: os estudantes da universidade.
Manhã passada a conhecer a universidade e a ler uma gramática de tétum. Seguiu-se almoço e ida ao banco para abrir conta. Mais universidade à tarde e regresso a casa.
Muitos nomes novos, muitos protocolos sociais e culturais novos, muita vontade de mudar coisas. Dar tempo ao tempo. O mais difícil são sempre as relações humanas.
A reter: a casa/jardim têm potencial, a empregada tem potencial, os guardas/jardineiros têm potencial.

17 de Julho - 3º dia em Dili

Hoje foi dia de almoçar fora num restaurante birmanês, com ventoinhas no tecto. O ambiente era um pouco como o daqueles filmes passados nos trópicos, com homens vestidos de branco.
Ida até à montanha visitar o memorial aos mortos na 2ª guerra mundial: australianos, holandeses, mas também, timorenses e portugueses. Quem o terá construído? Necessidade urgente de utilizar a casa-de-banho local...cheia de mosquitos na parede. Solução: repelente em TUDO o que foi sítio.
Seguiu-se visita a um seminário meio abandonado, descida da montanha e água de côco num bar perto da praia. Eles, os timorenses, não se banham por ali. Nem eles, nem mais ninguém. Parece que há crocodilos dentro de água. Na próxima semana, quero ir à praia da areia branca, lá mais para a frente, onde os "malai" (estrangeiros) tomam banho sem medos. Nunca ninguém viu nada disso e até fazem mergulho.... Não sei se me meto nisso.
Nota mental I: visitar a ilha de Ataúro, que fica a 20 km de Dili de barco (ou piroga...). Segundo a hóspede que habita por aqui nestes dias, mas que habita na ilha permanentemente, por lá não há crocodilos e parece que é paradisíaca, apenas com tubarões pequeninos... Questão: e se o "barco" se vira a meio do caminho?

17 de Julho - 2º dia em Dili

Dili não tem iluminação à noite, a não ser em alguns sítios, onde lá aparece um candeeiro de rua igual aos que existem em Portugal. O que vale é que há muito movimento (às 7 da tarde).
A panca do dengue e da malária, faz-me ter Baygon sempre à mão. Acabei de matar um mosquito mesmo agora. Estaria infectado? Dormi pouco e debaixo da rede mosquiteira. Às cinco na manhã, começaram todos os cães da rua a ladrar e confesso que fiquei com medinho, porque pensei que poderiam estar a dar alarme de qualquer coisa, mas não... devia ser apenas o despertar canino colectivo, juntamente com o dos galos. Todos devem ser muitos, porque foi grande a barulheira.
Mas os galos cantam a qualquer hora. São 10h48 da manhã e lá estão eles. De modo que às 8h já estava a pé. Pus creme, depois protector solar e depois repelente.
Parece que há para aí umas lutas de galos hoje. Quando não estão a lutar, estão atados por uma pata a uma árvore.
Vou almoçar fora e passear.

16 de Julho de 2011 - Chegada a Timor Sol Nascente

TIMOR! Vista brutal do avião. Dois colegas à espera. Ruas cheias de gente, mas em linhas rectas, com planeamento! Em casa: dois cães simpáticos, bolinho de laranja e batido de papaia. Passeio até um centro cultural e supermercado. Jantar em casa muito bom e bela converseta. Desfazer malas e net.... lentíssima! A ver se ponho fotos no facebook e começo a escrever no blogue!

16 de Julho de 2011 - Escala em Singapura

Em Singapura,depois de uma boa noite de sono num hotel fabulástico. Quarto com vista para a pista. Flores e humidade a 300%, mas dentro do aeroporto não se nota. Tudo me parece barato. O jantar de ontem deve ter ficado por quatro euros e foi bastante saboroso. Hoje: check-in feito. Espero que ninguém volte a implicar com os líquidos. Em Londres tive de provar por A+B que a minha cera faz parte do kit survival e que é algo sólido.

13 de Julho de 2011 - De partida...

É bom partir, mas é igualmente maravilhoso saber que por cá fica gente querida para quem voltar :) Vivem-se bons tempos de mudança!
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